Desde tenra idade que iniciei a minha atividade como pescador lúdico desportivo no litoral do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Estando habituado ao mar e aos constantes ventos que se fazem sentir pela costa, bem como às técnicas de pesca usadas e até mesmo às espécies de peixe presentes, foi uma página totalmente diferente, a que virei quando iniciei a minha jornada de pesca em águas doces na Républica Checa.
Não muito longe da minha residência portuguesa, encontra-se a imponente barragem de Santa Clara, conhecida como a “Meca” dos achigãs (Micropterus salmoides). É uma barragem de águas límpidas e profundas no curso do rio Mira. Existe nela uma boa população de carpas comum, achigãs e alburnos, maioritariamente.
Devido à proximidade geográfica, obviamente que em algumas ocasiões tentei a minha sorte no mundo da pesca aos predadores em água doce, tendo como alvo principal o achigã, pois é sabido que nestas águas vivem bastantes peixes dignos de troféu. Provavelmente a inexperiência aliada ao material inadequado bem como à falta de conhecimento e leitura correta das margens, nunca obtive nenhuma captura digna de registo, o que me levou a desinteressar pela pesca de água doce.
No ano de 2019 emigrei para a Républica Checa, mais concretamente para a região da Boémia do Sul, região essa repleta de rios e lagos plenos de vida e atividade piscatória. Resolvi então iniciar um novo capítulo na minha vida enquanto pescador e cultivar-me acerca deste estilo de pesca praticado por cá, bem como as espécies presentes nestas águas e os seus hábitos. Investi em material de pesca tendo como objetivo a prática de dois estilos de pesca bastante distintos, o típico “spinning” em água doce e o famoso “carpfishing”.
Nos primeiros anos foi complicado evoluir e melhorar as minhas capacidades e conhecimentos de pesca, pois o processo de obtenção da licença de pesca na República Checa é muito diferente de Portugal. Para a obtenção da licença de pesca é necessário realizar um teste de conhecimentos e regras (à semelhança dos testes para obtenção da carta de caçador em Portugal), bem como ser associado a uma das várias organizações de pesca espalhadas pela região, para não mencionar os elevados custos financeiros inerentes. Apesar de todos estes entraves, o meu maior obstáculo foi mesmo o idioma, pois a única forma de ter aproveitamento nestes testes de conhecimentos é através do idioma Checo.
Pondo de parte a hipótese de obter uma licença de pesca para águas públicas, a minha única opção foi frequentar lagos de pesca privados, onde me bastava pagar um valor diário e seguir as regras impostas pelos proprietários.
Apesar de o meu material de pesca ser de qualidade “low cost”, consegui obter umas capturas interessantes, para um leigo na pesca de água doce. A minha primeira captura digna de registo na disciplina “carpfishing”, foi uma bonita carpa comum com um peso de cerca de 11kg, capturada com uma cana “old school” de apenas 2 metros de comprimento. Ainda sem grande conhecimento acerca da infinita variedade de possíveis iscos, optei pelo tradicional milho doce, que se revelou efetivo!
A disciplina “carpfishing” é de facto desafiadora, tanto pelas lutas com peixes enormes, bem como pelo jogo de estratégia que considero ser, pois aqui todos os pormenores fazem a diferença, seja a apresentação do isco, a linha, a chumbada, a criação da zona de engodagem, o lançamento preciso, entre outras coisas.
Ainda que o “carpfishing” tenha a sua magia, a minha pesca de eleição é sem dúvida alguma, a pesca com utilização de iscos artificiais, conhecida como “spinning”. Mais uma vez, planeei uma jornada de pesca a um lago privado onde sabia de alguns registos anteriores de lúcios reais (Esox lucius), peixe que me faltava no cardápio de capturas e claramente era uma das minhas espécies mais ambicionadas. A jornada de pesca foi planeada para uma manhã bem fresca com o céu tapado, o que me fazia aumentar a esperança de haver alguma atividade. Outro indicador que me fez acreditar que as condições seriam boas para aquele tipo de pesca foi o facto de nesse momento estarem outros pescadores em atividade, também eles a tentar capturar um trofeu! Tentei as mais variadas apresentações, passando pelos “jerkbaits”, “topwaters”, “swimbaits” e os tradicionais “softbaits” também conhecidos como vinis. Imprimi no estilo de pesca recuperações rápidas e agressivas, lentas e junto ao fundo, amostras de cores berrantes bem como cores mais naturais e discretas, e nada parecia resultar. Já tinha tentado praticamente todas as amostras que tinha disponíveis, faltando-me apenas testar um vinil de cor “firetiger” da loja Decathlon. Naquele momento o meu pensamento foi: “perdido por 100, perdido por 1000” e aqui vai disto! Lancei bem em frente e recolhi a uma velocidade média-alta, de forma a que a apresentação não afundasse mais que 1 metro, e a cerca de 2 a 3 metros de distância da margem, já quando me preparava para levantar a amostra da água surge repentina e inesperadamente um vulto do fundo, que engoliu completamente o vinil e fez o carreto “zunir” como se de uma ventoinha se tratasse! :)
Após alguns minutos de luta, finalmente o peixe rendeu-se e pude então consumar a captura, exibindo o meu primeiro Pike (Esox lucius) para uma bonita fotografia.
Este foi o meu primeiro e mais pesado Pike até hoje capturado, pois na balança o peso acusado foi de mais de 5kg.
Desde então, esta espécie passou a ser a minha preferida em água doce, devido à beleza destes peixes, bem como à agressividade e voracidade dos mesmos no momento do ataque.